24 de abr. de 2014

MODERNISMO

Falar aqui do Modernismo é maravilhoso. Fiquei realmente encantada com esta época assim como foi com o maneirismo. Creio que vemos uma mera semelhança nesses períodos e que se resume em uma só palavra: ousadia.
Buscando no dicionário vemos que, ousar significa atrever-se assim como fizeram os jovens pintores do pós-renascimento ou maneirismo, onde o desejo de superar seus mestres foi de grande coragem.
No modernismo digo que, também atreveram-se, rebelaram-se contra a academia e contra a natureza ali posta. A atração pela inovação, pela heresia e pelo desconhecido, é muito superior ao conhecido. Caímos no experimental e entramos numa exploração total e profunda da subjetividade.
Ao contrário do maneirismo que a ousadia consistia numa nova maneira de se compor a obra, no modernismo a atenção se volta na nova maneira de se ver as obras culturais e o papel do artista.



Como tudo isso se inicia? Com Charles Baudelaire. Por quê? Toda a sua obra é característica de um fundador do Modernismo. Temos outras sugestões para criadores do modernismo: Marcel Duchamp, Woolf, Orson Welles, Virginia Woolf ou Igor Stravínski.
Baudelaire nasceu em 1821 na França e depois de passar por duas monarquias e uma revolução na sua família, logo descobriu seu talento para a poesia. Justamente por conta da poesia em 1857 ele vai para no banco dos réus por conta de seu livro de poemas chamado “As flores do mal”. O governo imperial acusou-o de blasfêmia e obscenidade parecendo como uma auto-defesa de possíveis futuras acusações das libertinagens das altas esferas. Ele sabia que estava sendo ousado e as seis obras proibidas estavam como as mais eróticas criadas por Baudelaire.
Por outro lado, ele apenas queria acabar com a tendência de ver a blasfêmia e a obscenidade como crimes. Bom, só até aqui (ñ irei estender) vocês podem observar como foi difícil superar tais pensamentos, por isso não foi a toa que classificaram- o como modernista.

Agora, fazendo uma comparação, estamos ainda no modernismo ou somos pós-modernos? Será que este período foi o bum para estarmos vivenciando o que vemos hoje? A sexualidade que está exposta ao alcance de todos pode também dizer que isto é uma conquista dos nossos tempos?
Creio que o capitalismo percebendo que o ser humano é insatisfeito por excelência, colocou o erotismo numa forma onde as mais intimas e secretas fantasias poderiam ser realizadas e de todas as formas, em qualquer lugar e, detalhe, com quem você quiser. Estaremos sendo falsos moralistas em crucificar a sexualidade exacerbada dos dias de hoje? Isto foge de um campo no qual foi imposto como amoral?
Creio que caio novamente no questionamento do post anterior onde meu colega fala com as palavras da filosofia.
Se essa insatisfação do ser humano não existisse, estaríamos hoje vivendo de que forma? Ou será que a dualidade dessa insatisfação do ser humano seja realmente a solução, o progresso, a tragédia ou até mesmo a própria salvação da humanidade???

Segue poema de Charles Baudelaire:



Teu ar, teu gesto, tua fronte
São belos qual bela paisagem;
O riso brinca em tua imagem
Qual vento fresco no horizonte.
*
A mágoa que te roça os passos
Sucumbe à tua mocidade,
À tua flama, à claridade
Dos teus ombros e dos teus braços.
*
As fulgurantes, vivas cores
De tua vestes indiscretas
Lançam no espírito dos poetas
A imagem de um balé de flores.
*
Tais vestes loucas são o emblema
De teu espírito travesso;
Ó louca por quem enlouqueço,
Te odeio e te amo, eis meu dilema!
*
Certa vez, num belo jardim,
Ao arrastar minha atonia,
Senti, como cruel ironia,
O sol erguer-se contra mim;
*
E humilhado pela beleza
Da primavera ébria de cor,
Ali castiguei numa flor
A insolência da Natureza.
*
Assim eu quisera uma noite,
Quando a hora da volúpia soa,
Às frondes de tua pessoa
Subir, tendo à mão um açoite,
*
Punir-te a carne embevecida,
Magoar o teu peito perdoado
E abrir em teu flanco assustado
Uma larga e funda ferida,
*
E, como êxtase supremo,
Por entre esses lábios frementes,
Mais deslumbrantes, mais ridentes,
Infundir-te, irmã, meu veneno!